domingo, 20 de setembro de 2009

A Humanidade na Pós-Segunda Guerra

Há 60 anos terminava a Segunda Guerra Mundial. Foi um conflito que deixou um triste e vergonhoso legado à humanidade: mais de 50 milhões de pessoas morreram em seis anos, dentre os quais 6 milhões de judeus assassinados pelo regime nazista. As imagens dos campos de concentração nazistas - que, além dos judeus, mantinham em condições subumanas outras minorias, como ciganos, homossexuais, testemunhas de Jeová - reveladas após as tropas aliadas conquistarem os territórios até então dominados pelas forças militares alemãs mostraram ao mundo a face mais terrível das atrocidades que o homem é capaz de cometer.

Apesar de tanta destruição, a história jamais parou. O homem tem grande capacidade de se reiventar e reconstruir sua existência sobre escombros, dramas, catástrofes e dificuldades as mais diversas. Então, afinal, o que vem sendo construído pela humanidade até os dias atuais sobre os alicerces moldados a partir do fim da Segunda Guerra Mundial?

"Depois que os alemães invadiram a Rússia, o sentido da guerra modificou-se. Porque eles chegaram basicamente às portas de Moscou, mais exatamente a uns 20 quilômetros de Moscou, a Rússia conseguiu empurrar eles para trás, mais ou menos a uns 100 quilômetros de distância, e, posteriormente, quando ocorreu a batalha de Estalingrado, em que o Exército Vermelho conseguiu derrotar o Exército alemão, a guerra mudou de rumo, porque, a partir daí, era uma questão de tempo. A partir dali, para mim, a Alemanha estava perdida. O Exército Vermelho conseguiu avançar em uma velocidade relativamente elevada e o mundo socialista cresceu de forma significativa... O socialismo propriamente dito, decorrente da vitória da União Soviética, chegou a dominar 30% dos países que tinham influência no encaminhamento da vida da família humana", afirma Enildo Pessoa, professor aposentado e ex-diretor do Instituto de Ciência Humanas da PUC-Campinas, autor de sete livros, entre eles A Humanidade e o Futuro.

Desta forma, com a vitória da União Soviética na Europa Oriental e as conquistas da Aliança capitaneada pelos Estados Unidos na parte Ocidental daquele continente, começava a se desenhar um cenário em que as forças que dominariam a civilização atuavam em dois pólos opostos.

Nova ordem

"A primeira coisa que se destaca é uma nova ordem mundial que vai se formar naquele momento. A gente vai ter o que chama de um mundo bipolarizado, porque, antes, era multipolarizado. Portanto, o efeito maior da Segunda Guerra é criar uma ordem mundial girando em torno da União Soviética e dos Estados Unidos. Esse efeito perdurou até recentemente, quando acabou a União Soviética, o que já muda novamente a ordem mundial, que não é mais aquela que a Guerra deixou para a gente", explica a professora do Departamento de História da UFPE (Unviersidade Federal de Pernambuco) Suzana Cavani Rosas.

"A outra coisa é que a Segunda Guerra mudou a natureza da guerra. A guerra convencional cedeu lugar à possibilidade de uma guerra nuclear (após o bombardeio nuclear de Hiroshima e Nagazaki, no Japão). E, contraditoriamente, como essa guerra nuclear tem uma proporção de destruição muito grande, e até mesmo a parte que seria vencedora teria muitas perdas, formou-se a Guerra Fria. Quer dizer: a impossibilidade de um conflito armado entre as duas grandes potências. Elas têm tudo para brigar, são inconciliáveis, mas a ameaça de uma guerra nuclear evita o confronto das grandes potências. O que você vai ter são outros confrontos indiretos entre essas potências em diversos países no mundo", acrescenta Suzana Cavani.

Dessa forma, o mundo passava das contradições internas ao próprio capitalismo (que deram origem à Primeira e à Segunda Grande Guerra Mundial) para as contradições de duas ideologias diversas: o capitalismo, defendido pelos Estados Unidos; e o socialismo, sob a égide da União Soviética. O embate dessas duas superpotências que emergem do pós-Guerra vai se dar não campo de batalha - já que a guerra, agora, seria sinônimo de destruição da própria raça em razão da Corrida Armamentista com a multiplicação dos arsenais atômicos de ambos os lados -, mas no terreno nebuloso que passou a ser conhecido como Guerra Fria.

Fim dos Impérios

Outro efeito significado do pós-Guerra foi o processo de esfacelamento dos grandes impérios coloniais, principalmente com a perda do poderio de duas grandes potências até a Segunda Guerra: França e Inglaterra.

Crises e oportunidades

O período vivido durante a Guerra Fria foi repleto de graves crises que abalaram, em alguns momentos, seriamente o equilíbrio de forças que era mantido sobre um tênue fio que por pouco não se desfez em um conflito atômico generalizado. Foi o caso da crise dos mísseis em Cuba, em 1962, quando Estados Unidos e União Soviética por pouco não partiram para a solução do impasse na base de um conflito atômico. Outras graves crises marcaram o pós-Guerra, como a Guerra da Coréia, a Guerra do Vietnã, a invasão da Baía dos Porcos, em Cuba.

Efeitos diretos

Há ainda exemplos de ações tomadas no pós-Guerra que afetam significativamente a vida de algumas populações. É o caso dos alemães, derrotados no conflito: "Vamos pensar hoje uma situação muito típica que é a da Alemanha. Quando a Guerra termina, a Alemanha vai ser dividada pela primeira vez depois de se transformar em uma Nação - ela se transforma em uma nação em 1870. Então, até aquele momento ela se mantém uma nação unida, passando por guerras, mas se mantendo uma nação unida. Ela vai ser dividida inicialmente em quatro forças, que acabam depois virando duas forças. Acabamos tendo a Alemanha Ocidental, que é controle mais ou menos do que era o mundo capitalista, mais objetivamentes os EUA, e a Alemanha Oriental, sob controle, obviamente, do mundo soviético", indica a professora Maria Aparecida Aquino.


Nenhum comentário:

Postar um comentário